É um estabelecimento, como é de imaginar, altamente dependente do bom tempo. Como todo mundo sabe, os quase 300 metros da famosa mureta que faz as vezes de prolongamento do endereço ficam a céu aberto. “Quando chove, o movimento despenca”, resume um dos sócios, Rodrigo Gomes, neto do fundador, Armando Gomes (1916-2012). Quando o sol dá as caras, por outro lado, é só alegria para o estabelecimento, famoso pela empada de camarão e pelo bolinho de bacalhau, entre outros petiscos do tipo, e pela constante aglomeração em frente ao balcão.
Para o faturamento do bar Urca, obviamente, o verão é a melhor época do ano. “Nos últimos cinco anos, nossas receitas aumentaram 20% no período”, informa Rodrigo, que acredita que a estação deste ano poderá se traduzir em um percentual ainda maior. “A expectativa é de um movimento similar, enfim, ao de antes da pandemia. Isso porque a imagem do Brasil para os turistas estrangeiros melhorou nos últimos anos”. Registre-se que 50% dos frequentadores do bar Urca moram em outras cidades.
De olho no lucro extra trazido pelo verão, o estabelecimento se planeja para ampliar o estoque em 20%. Convém lembrar que a alta temporada, no Rio de Janeiro, vai do início de dezembro até o Carnaval — que ocorrerá, em 2025, no começo de março. Para dar conta do maior fluxo de clientes nesta época do ano, o endereço não costuma contratar mais gente. “Vamos sentindo, no dia a dia, se a nossa equipe está dando conta da demanda maior”, explica o neto do fundador. “Em caso de necessidade, mexemos na escala de trabalho”. O estabelecimento emprega 20 pessoas no bar, que se revezam em dois turnos, e 18 no restaurante, que trabalham no mesmo esquema.
Para o Café 18 do Forte, que serve um dos cafés da manhã mais concorridos do Rio de Janeiro, o verão é ainda mais estratégico. A estação mais aguardada do ano costuma incrementar as receitas do empreendimento de 25% a 35%. Também pudera: o Forte de Copacabana, no qual o estabelecimento está localizado, é tido como o terceiro endereço mais visitado da cidade. “No caso desse empreendimento, o movimento é bom o ano todo”, gaba-se um dos sócios, Edu Araújo. “Nunca há queda no número de frequentadores”.
O grupo encabeçado por ele tem oito negócios ao todo, um mais diferente do outro. Os demais estabelecimentos são o Quartinho, o Chanchada, o Pope, o Dainer, o Suru Bar, o Glorioso Sushi e o Fatchia. Nem todos se beneficiam do verão da mesma forma. “Os que privilegiam mais o contato com o clima externo são os que vão melhor na alta estação”, explica Araújo. O Dainer, não por acaso, costuma fazer mais sucesso em dias chuvosos ou nublados. “Se está um dia lindo de sol, os clientes preferem ir para endereços mais abertos ou para a praia”, resigna-se o restaurateur. O Dainer foca em brunch e almoços rápidos.
No caso do grupo de Araújo, a estratégia para o verão varia de endereço para endereço. Com 50 funcionários, o Café 18 do Forte, por exemplo, costuma contratar de quatro a oito extras entre dezembro e o Carnaval. “O Rio de Janeiro está na moda, o aumento de voos no aeroporto do Galeão não deixa mentir”, acrescenta o restaurateur. “Isso se traduz em novas oportunidades de negócio para quem souber se preparar."
Para Fernando Blower, presidente do SindRio, o Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro, a alta do dólar e do euro devem fortalecer o turismo na cidade neste verão. “A cidade é um dos principais destinos do Brasil e viajar para fora do país está ainda mais caro”, argumenta. Ele acrescenta que eventos como o recente G20 e a premiação deste ano dos 50 Melhores Restaurantes da América Latina também favorecem o turismo local. “Alimentam uma imagem positiva da cidade e repercutem no mundo todo”, destaca.
Aos bares e restaurantes interessados em aumentar os ganhos durante a alta temporada, Blower recomenda planejamento. “É importante reforçar o treinamento dos funcionários levando em conta que boa parte da clientela desta época nunca pisou no seu estabelecimento”, sugere o presidente do SindRio. “Muitos dos clientes vão estar atrás de dicas sobre o que fazer no Rio de Janeiro. Os endereços que souberem fazer uso disso poderão se destacar”.
Dispor de funcionários fluentes em inglês, acrescenta Blower, é o ideal. “Não sendo possível, oferecer um cardápio nesse idioma é o mínimo”, defende. Atenção: ele se refere a inglês bem escrito. Nada de traduzir contrafilé como “against fillet”, como fazem alguns endereços da cidade, alimentando um folclore que não ajuda em nada. Em tempo: o SindRio promove cursos de inglês para atendimento em bares e restaurantes. A próxima turma começa dia 7 de janeiro.